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      Almanaque vem do árabe "al-manakh", que significa “o lugar onde o camelo se ajoelha ou onde se apeia do camelo ou do cavalo para conversar e trocar informações”. Esta página é um espaço para assuntos vários: comunidade,  atualidades,  resumos sobre ciências, meio ambiente, história, música, literatura,  artes plásticas e gráficas.

A DIVINA

ELISETH MOREIRA CARDOSO

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     A carioca Elizeth Moreira Cardoso reverenciada pelo público brasileiro, pela crítica e conhecida como A Divina, é considerada uma das maiores intérpretes da música brasileira e um das mais talentosas cantoras de todos os tempos,

     Elizeth Cardoso nasceu em 1920, na Rua Ceará, no subúrbio de São Francisco Xavier, e cantava desde pequena pelos bairros da Zona Norte carioca, cobrando ingresso (10 tostões) das outras crianças para ouvi-la cantar os sucessos de Vicente Celestino.

     Seu pai trabalhavaa como fiscal da prefeitura, tocava violão e era um seresteiro e sua mãe também gostava de cantar. Na infância, morou na região da Praça Onze, onde frequentou a casa de Tia Ciata, local em que teria nascido o samba carioca, e estreou como cantora aos cinco anos, na sede da Sociedade Familiar Dançante e Carnavalesca Kananga do Japão, como madrinha de uma festa em homenagem a São Jorge.

     Desde cedo Eliseth precisou trabalhar e entre 1930 e 1935, foi balconista, funcionária de uma fábrica de saponáceos e cabeleireira, até que seu talento foi descoberto. Gostava de frequentar com o tio reuniões nas casas de músicos importantes, como Pixinguinha.           Alguns desses artistas estavam presentes em seu aniversário de 16 anos. Incentivada pelo tio, Elizeth cantou várias músicas, acompanhada pelo conjunto Jacob e sua Gente. Ao ouvi-la, Jacob do Bandolim disse que iria levá-la para a Rádio Guanabara.

     Apesar da oposição inicial do pai, ela apresentou-se em 1936 no Programa Suburbano, ao lado de Vicente CelestinoAraci de AlmeidaMoreira da SilvaNoel Rosa e Marília Batista. Na semana seguinte foi contratada para um programa semanal na rádio.

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       Em 1939 casou-se  com Ari Valdez, mas o casamento durou pouco.

      Eliseth passou por várias emissoras de rádio e se apresentou em alguns clubes noturnos. Em 1940, enquanto trabalhava no "Dancing Avenida" como taxi-girl, conseguiu um teste para cantar com a orquestra do clube, dirigida pelo maestro Dedé, e foi aprovada.        A jovem cantora passou a chamar a atenção e a conquistar fãs com um repertório formado por muitos sambas, boleros, tangos argentinos e uma ou outra música norte-americana.

    Em 1941, tornou-se crooner de orquestras, chegando a ser uma das atrações do "Dancing Avenida" até 1945, quando se mudou para São Paulo para cantar no "Salão Verde" e para apresentar-se na Rádio Cruzeiro do Sul, no programa Pescando Humoristas.

     Além do choro, Elizeth consagrou-se como uma das grandes intérpretes do gênero samba-canção ao lado de MaysaNora NeyDalva de OliveiraÂngela Maria e Dolores Duran.

      Elizeth migrou do choro para o samba-canção, que em seu estilo romântico também era  chamado de dor-de-cotovelo  e deste para a bossa nova, gravando em 1958 o LP Canção do Amor Demais. O antológico LP trazia ainda, também da autoria de Vinícius de Moraes e Tom Jobim, Chega de Saudade, Luciana, As Praias Desertas e Outra Vez. A melodia ao fundo foi composta com a participação de João Gilberto, um jovem baiano que tocava o violão de maneira original, inédita.

     No início de 1950, graças a Ataulfo Alves, conseguiu gravar seu primeiro disco, pelo selo Star, com os sambas Braços vazios (Acir Alves e Edgard G. Alves) e Mensageiro da saudade (Ataulfo Alves).

     Em julho de 1950, Elizeth gravou o 78 rpm que a lançaria ao estrelato, com Complexo (Wilson Batista e Magno Oliveira) e Canção de amor (Chocolate [Lourival Silva] e Elano de Paula). Lançado em outubro, fez sucesso principalmente por causa de Canção de amor, samba-canção que se tornaria uma das marcas registradas da cantora. Em 1953, Elizeth estreou no espetáculo Feitiço da Vila, de Paulo Soledade e Carlos Machado, em homenagem a Noel Rosa e que foi um verdadeiro sucesso

   Em 1955, lançou o LP Canções à meia-luz com Elizete Cardoso, com arranjos de Antonio Carlos Jobim e Radamés Gnattali. Foi o primeiro de uma extensa discografia – foram mais de 40 álbuns, fora os 50 discos de 78 rpm gravados entre 1950 e 1963 e os mais de 20 compactos simples e duplos lançados nas décadas de 1960 e 1970.

      Eliseth começou 1957 cantando nas boates Clube 36 (Copacabana) e Oásis (São Paulo). Foi por causa dos shows nesta última que ganhou o apelido de Divina. Haroldo Costa substituía Sérgio Porto na seção que este escrevia para a Última Hora sob o pseudônimo Stanislaw Ponte Preta. Foi ele quem escreveu que um grupo apareceu na boate com uma faixa onde se lia “Elizeth, a Divina”. O apelido pegou.

      Quem também reivindicava a criação do apelido era Vinicius de Moraes, que a convidou para participar de um LP do selo Festa apenas com parcerias dele com Tom Jobim.

      Nos anos 1960 Eliseth apresentou o programa de televisão "Bossaudade " na,TV Record, São Paulo.

    Em 1968 apresentou-se num espetáculo que foi considerado o ápice da carreira, com Jacob do Bandolim, Época de Ouro e Zimbo Trio, no Teatro João Caetano, em benefício do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, onde foram ovacionados pela platéia. 

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     Em 1964, aceitou o desafio do maestro Diogo Pacheco e interpretou as Bachianas Brasileiras n. 5, de Heitor Villa-Lobos, em apresentações marcantes onde foi ovacionada no Theatro Municipal do Rio de Janeiro e no de São Paulo.

    No ano seguinte, lançou Elizete Sobe o Morro, uma obra-prima com composições de Paulinho da Viola, Elton Medeiros, Nelson Cavaquinho, Jair do Cavaquinho e Anescarzinho do Salgueiro.

    Em abril de 1965 conquistou o segundo lugar na estréia do Festival de Música Popular Brasileira (TV Record) interpretando Valsa do amor que não vem (Baden Powell e Vinícius de Moraes).                Elizeth Cardoso lançou mais de 40 LPs no Brasil e gravou vários outros em PortugalVenezuelaUruguaiArgentina e México. Entre lançamentos de discos e viagens internacionais, em 1977 foi para o Japão, onde se apresentou em um espetáculo para 4.500 pessoas, eternizado no álbum Live in Japan. Em 1983, apresentou-se ao lado de Radamés Gnattali e da Camerata Carioca no espetáculo Uma rosa para Pixinguinha, editado em LP meses depois.

   Diagnosticada com câncer, submeteu-se a duas cirurgias antes de gravar, em 1989, Ary amoroso, com músicas de Ary Barroso, e Todo o sentimento, em parceria com o violonista Raphael Rabello.

    Aclamada Rainha Eterna do Cordão da Bola Preta e madrinha da Banda de Ipanema, desfilou também por diversas escolas de samba – Portela, sua escola de coração, Unidos de Lucas, Salgueiro e Quilombo. A cantora faleceu em 1990, no bairro carioca de Botafogo, aos sessenta e nove anos 

   Em 2010, em comemoração aos seus 90 anos, o Instituto Moreira Salles produziu um espetáculo que buscava capturar o essencial do repertório de Elizeth. O roteiro comentado ficou a cargo de Sérgio Cabral, amigo e biógrafo. Em 2020 a gravadora Biscoito Fino lançou o álbum Uma homenagem à divina Elizeth Cardoso – 100 anos ao vivo gravado ao vivo num show em tributo à cantora apresentado no Teatro Paulo Autran, do SESC Pinheiros, em São Paulo, com a reunião dos cantores Alaíde Costa, Ayrton Montarroyos, Claudette Soares, Eliana Pittman, Leci Brandão e Zezé Motta.

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